E ainda te abre mais para o inter-cuidado.
Com o Dia Internacional da Mulher, somos convidadas a refletir um pouco mais sobre os avanços e desafios que a sociedade como um todo tem com relação à igualdade de gêneros e emancipação das mulheres.
Algumas pessoas ainda compreendem que é uma data comemorativa, de dar flores e mensagens superficiais para as mulheres, com pouco espaço para uma análise crítica do que é ser mulher no mundo de hoje.
Há grupos que já trazem um olhar mais inquisidor para essa data, propondo que não seja apenas celebração, mas um momento de olhar mais profundamente para as desigualdades e opressões que os corpos femininos sofrem.
Como mulher e negra que sou, não posso deixar de analisar a interseccionalidade das opressões e discriminações às quais corpos como o meu são sujeitados por conta da soma do machismo e da misoginia com o racismo. Estou atenta a isso sempre que falo de pautas feministas.
O que me parece ainda muito contraditório para as mulheres em geral, e as latino americanas em especial, sejam elas de descendência negra, indígena, branca ou asiática é a pouca permissão que nos damos para cuidar de nós mesmas.
Percebo que, apesar do discurso feminista de igualdade de gêneros e erradicação da violência contra a mulher, a maioria de nós ainda escorrega feio no quesito autocuidado e é sobre isso que escrevo hoje.
Mas para tanto, preciso definir a que me refiro quando falo de autocuidado.
Aqui estou indo muito além do tempo para a manicure ou cabeleireira (por mais que eu ame esse mimo!), mas estou falando de criar espaços para alimentar a si mesma daquilo que te faz bem, que cuida do corpo, da mente, nutre a sua alma e te coloca em um espaço de abertura para também receber.
O autocuidado te abre para a troca mais igualitária.
Veja, isso é o oposto da imagem que nos vendem através da mídia de mulher forte, independente, que dá conta de estar sempre bem arrumada, ser a profissional mais competente da empresa, enquanto é mãe perfeita e esposa dedicada.
Aliás, quem conhece essa mulher, hein?!
Essa cultura que foca na produção e na imagem de perfeição da mulher bem-sucedida te convence de que há algo errado em pausar, descansar e cuidar do que vai servir somente à você, à uma parte de você que, muitas vezes, não é compartilhada com ninguém – nem com a empresa, com o/a parceiro/a, com filhos ou restante da família.
O autocuidado é uma forma de resistência ao mundo que segue calando a nossa voz, dizendo que o nosso prazer (não apenas sexual) é pouco importante e que somos feitas para cuidar dos outros o tempo todo, ininterruptamente. Santa Madona!
Essa reivindicação é revolucionária e faz parte da nova onda feminista que vivemos agora mesmo.
“Para as pessoas oprimidas cultivar intencionalmente o prazer é um ato de resistência.”
Ingrid LaFleur
Veja, o autocuidado é também o que nos fortalece para o inter-cuidado.
Nos coloca em um lugar de maior centramento, foco e energia para lidarmos com as demandas do mundo ao redor, para cuidar também dos outros, sabendo que estamos honrando e dedicando espaço e tempo para as demandas que são apenas nossas.
Cuidar de nós mesmas requer que tenhamos muita clareza sobre os papéis que desempenhamos socialmente, bem como as necessidades e limites do nosso corpo, mente e espírito.
Requer que aprendamos a dizer não para os outros, quando precisamos dizer sim para nós mesmas.
E te pergunto:
- Quanto espaço você permite criar para cuidar de si mesma?
- Quais limites você impõe às necessidades e solicitações dos outros, para poder atender também às suas próprias necessidades?
- Quais as suas crenças sobre a mulher que prioriza a si mesma em detrimento das pessoas de quem ela cuida, como filhos e parentes, por exemplo?
- O que você precisa fazer, para se permitir pausar e se autocuidar?
Perceba que as respostas podem te trazer percepções preciosos sobre esse tema. Espero que elas contribuam com o seu processo de liberação e florescimento da mulher incrível que você é.
E me conte como é falar sobre isso tudo? Eu sempre quero saber. Basta comentar aqui no blog ou me enviar uma mensagem privada. Vou amar ler e comentar!
Grande beijo,
Marina